Mastologia Especializada

Existem diversas síndromes genéticas hereditárias conhecidas relacionadas à ocorrência de câncer de mama:

Câncer de Mama e de Ovário Hereditários – Mutação nos genes BRCA1 e BCRA2

A principal síndrome hereditária para câncer de mama é causada por mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2. Pacientes que herdam essa mutação apresentam um aumento substancial do risco de desenvolver câncer de mama e de ovário ao longo da vida, como também um aumento de risco para outros tipos de câncer, como pâncreas, próstata e melanoma. Estima-se que em torno de 1 a cada 400 e 1 a cada 800 indivíduos, possua a mutação no BRCA1 e BCRA2, respectivamente.

Abaixo estão listadas algumas situações em que há maior chance de encontramos tais mutações:

  • Câncer de mama em pacientes jovens.
  • História familiar de câncer de mama e ovário.
  • Câncer de mama bilateral.
  • Câncer de ovário.
  • Câncer de mama em homem.
  • Câncer de mama subtipo triplo-negativo.

As mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 apresentam alta penetrância. Penetrância significa o risco de desenvolver a doença hereditária (no caso, o câncer) uma vez que você herdou a mutação. O risco de desenvolver câncer de mama até os 70 anos chega a 65% (varia de 44 a 80%) em pacientes com mutação no BRCA1 e a 45% (varia de 31 a 56%) em paciente com mutação no BRCA2. 

As mutações nesses genes implicam em 60 a 80% de chance de desenvolvimento do câncer de mama durante toda a vida e de 10 a 40% de chance de desenvolvimento de câncer de ovário.

A mutação no gene BRCA1 se tornou mais conhecida pela população após a atriz Angelina Jolie ter declarado publicamente que a possuía. Devido ao alto risco de desenvolver câncer de mama e ovário ao longo da vida, a atriz retirou suas mamas e as reconstruiu no mesmo tempo cirúrgico e posteriormente retirou também os ovários. 

Vale comentar –  Anticoncepcionais hormonais e mutação no BRCA:

O uso de contraceptivos orais reduz o risco de câncer de ovário em 45 a 50% em pacientes com mutação no BRCA1 e em 60% no BRCA2. No entanto, estudos têm sugerido um discreto aumento no risco de câncer de mama em usuárias de anticoncepcionais hormonais. Nas pacientes com BRCA1/2 mutados, estudos mostraram que o uso de contraceptivo hormonal não aumenta significativamente o risco de câncer de mama. Dessa forma, a recomendação para o uso de anticoncepção hormonal não está contraindicada nessas pacientes e deve ser individualizada e discutida com seu médico.

Outras síndromes neoplásicas podem aumentar o risco de câncer de mama além de outros tipos de câncer, como ovário, cólon (intestino), próstata, pâncreas, endométrio (útero), melanoma entre outros:

Síndrome de Cowden 

Na maioria dos casos causada por mutação no gene PTEN. Sua incidência acontece em cerca de 1 a cada 200.000 nascidos vivos. O risco mais alto de câncer nesta síndrome é o de mama, que gira em de 50 a 85% ao longo da vida, com idade média de diagnóstico entre 38 e 46 anos. Pode ainda aumentar o risco de:

  • Provocar diferentes lesões na pele
  • Múltiplos hamartomas (tumores benignos), principalmente intestinais.
  • Lesões malignas em vários órgãos e tecidos incluindo pele (melanoma), membranas mucosas, intestino, tireóide, endométrio (útero), rins e SNC.
Síndrome de Peutz-Jegher

Causada por mutações no gene supressor de tumor STK11, com incidência de 1 para 50.000 a 200.000 indivíduos. Caracterizada por múltiplos pólipos intestinais hamartomatosos, manchas pigmentadas nos lábios, na parte interna das bochechas e na ponta dos dedos. Está associada a um aumento significativo no risco de câncer (risco relativo de 89% ao longo da vida).

Aumenta o risco para os seguintes tipos de câncer:

  • Gastrointestinal – colorretal, gástrico, intestino delgado (risco em torno de 55% ao longo da vida).
  • Mama (risco – 35-50%).
  • Pâncreas.
  • Ovário (risco – 20%).
Síndrome de Li-Fraumeni 

Corresponde a uma síndrome de predisposição hereditária ao câncer, de ocorrência rara, vista em aproximadamente 1% dos casos de câncer de mama. A ocorrência de mutações no gene p53, associado a essa síndrome ocorre em 1 para cada 20.000 nascidos vivos. Quase 100% dos indivíduos afetados irão desenvolver algum tipo de câncer durante a vida, geralmente com diagnóstico antes dos 45 anos de idade. Os tipos mais comuns de câncer que ocorrem nessa síndrome são:

  • Câncer de mama e sarcomas ósseos, sarcomas de partes moles;
  • como também tumores cerebrais, carcinomas adrenocorticais e leucemias.

As mulheres com mutação no gene p53 têm uma chance de ter câncer de mama em torno de 56% aos 45 anos de idade e 90% por volta dos 60 anos de idade.

Câncer gástrico difuso hereditário

É uma síndrome associada a mutações no gene CDH1, embora em até 75% dos pacientes não seja identificável tal mutação. Está associada com um risco aumentado de:

  • Câncer de mama (subtipo lobular) – risco de 39-52%.
  • Câncer gástrico difuso – risco de 83%.

O risco combinado de câncer de mama e de câncer gástrico em mulheres com esta síndrome é de cerca de 90%, aos 80 anos de idade.

Síndrome de Lynch – Câncer Colorretal Hereditário sem Polipose (HNPCC)

Associada a mutações nos genes MLH1, MSH2 e MSH6. Os indivíduos afetados têm uma probabilidade em torno de 70% de desenvolverem câncer colorretal, que assim como os demais cânceres hereditários, ocorre geralmente em idades mais jovens. Apresentam ainda, um risco acrescido para outros tipos de câncer:

  • Mama
  • Endométrio (útero) 
  • Ovário
  • Estômago, intestino delgado
  • Vias urinárias
  • Pâncreas
  • Vias biliares
Mutação PALB2

Mutação genética relacionada ao aumento de risco de câncer de mama. O risco médio cumulativo de câncer de mama aos 70 anos de idade, na população mutada, é de 47,5%.

Importante salientar que existem famílias com múltiplos casos de câncer em que nenhuma mutação é reconhecida. Estes cânceres familiares podem ter um componente hereditário, mas a causa genética ainda não foi identificada pelos métodos diagnósticos atuais. Essas famílias, assim como aquelas com mutações estabelecidas, devem fazer um acompanhamento diferenciado e especializado de sua saúde, de acordo com o fenótipo/tipos tumorais apresentados.

TODAS AS PACIENTES COM DIAGNÓSTICO DE MUTAÇÃO GENÉTICA QUE PREDISPÕE AO CÂNCER DEVE TER ACOMPANHAMENTO MÉDICO RIGOROSO MULTIDISCIPLINAR. ESSAS PACIENTES DEVEM TER ACONSELHAMENTO COM MÉDICO GENETICISTA.