Mastologia Especializada

É uma forma de tratamento sistêmico (atinge todo o organismo) para o câncer de mama e tem por objetivo destruir as células cancerígenas em todo o corpo. Visa tratar a doença micrometastática e, assim, retardar ou reduzir as chances de recidiva.

Como funciona a quimioterapia?

A quimioterapia é um tratamento citotóxico, ou seja, é capaz de destruir células, uma vez que interfere na capacidade de divisão e de crescimento celular. Como as células cancerígenas crescem e se dividem de maneira desordenada e descontrolada, estão susceptíveis a ação dos medicamentos quimioterápicos.  

Frequentemente uma combinação de drogas é utilizada, uma vez que os quimioterápicos agem de maneira diferente e atingem as células cancerígenas em diferentes estágios de crescimento. 

Na maioria dos casos a quimioterapia é administrada na corrente sanguínea (via endovenosa), mas também há alguns casos de drogas administradas na forma de comprimido.

Quando a quimioterapia é indicada?

A indicação de quimioterapia leva em consideração diversos fatores. Analisam-se características específicas do tumor relacionadas à chance de sobrevida e avaliam-se se os benefícios do tratamento superam os riscos (efeitos colaterais).

Alguns dos fatores que juntos ajudam na escolha do tratamento estão listados abaixo:

  • Presença de metástases nos gânglios linfáticos (ínguas) da axila
  • Tamanho e grau do tumor 
  • Índice de multiplicação do tumor (Ki67 na imuno-histoquímica)
  • Presença ou ausência de receptores hormonais no tumor
  • Idade da paciente

A quimioterapia é mais eficaz, ou seja, tem mais benefícios, nos casos de tumores-triplo negativos (sem receptores hormonais e sem HER-2), na presença de tumores de crescimento rápido (índice de proliferação maior), tumores maiores que 1,0cm, com gânglios linfáticos (linfonodos/ínguas) comprometidos.

Em muitos casos a decisão se o paciente deve ou não ser submetido ao tratamento quimioterápico não é fácil.  O real benefício da quimioterapia pode ser difícil de ser estimado com os dados clínicos e muitas vezes pode não se sobressair em relação aos riscos. 

A avaliação cuidadosa do Oncologista, levando em consideração as características de cada paciente, expondo a ele/a todas as variáveis em questão, ajudará na decisão conjunta do tratamento.  

Existem algumas ferramentas que podem auxiliar os oncologistas nas escolhas, como programas de computador (Ex.: Adjuvant!, Predict), que dão uma ideia dos possíveis benefícios da quimioterapia e do prognóstico, com ou sem o tratamento quimioterápico.

Além disso, existem Testes Genéticos a serem realizados no tumor (Oncotype DX®, Mammaprint®, Prosigna®, Endopredict®) que podem ajudar os oncologistas a decidir se um determinado paciente pode se beneficiar da quimioterapia como parte do tratamento.  Estudos realizados com esses testes mostram que a quimioterapia pode ser evitada em pacientes com alto risco clínico, mas risco genético baixo/moderado. Porém, a realização de testes genéticos no tumor, apesar de ser o melhor parâmetro para decisão do tratamento complementar, ainda tem pouco espaço no Brasil, uma vez que possuem um alto custo (em torno de 10 a 15 mil reais) e ainda não são cobertos pelos planos de saúde.

A quimioterapia pode ser:
  • Adjuvante – ou preventiva: administrada após o procedimento cirúrgico, para combater células cancerígenas remanescentes; tem como objetivo diminuir as chances de recidiva (retorno do câncer).
  • Neoadjuvante – administrada previamente a cirurgia. É classicamente indicada para reduzir o tamanho do tumor e possibilitar cirurgias menos extensas – geralmente para tumores maiores e/ou quando há comprometimento tumoral em linfonodos. Também pode ser usada nos casos de tumores de tamanho médio e mamas pequenas.  Além disso, para alguns subtipos tumorais como triplo-negativos ela mostra-se, na maioria dos casos, como o tratamento inicial de eleição. Possibilita observar a resposta do tumor ao tratamento, permitindo planejar estratégias terapêuticas posteriores.
    Algumas pacientes alcançam resposta patológica completa com o tratamento quimioterápico, ou seja, há o desaparecimento completo do tumor. Nessa situação temos um sinalizador positivo de melhor prognóstico. É importante ressaltar que, mesmo quando os exames de imagem mostram ausência de tumor após a quimioterapia, há a necessidade de realizar procedimento cirúrgico na área prévia do tumor, para se certificar da ausência completa da neoplasia (ausência de células microscópicas).
  • Para doença metastática – geralmente é o principal tratamento quando a doença se dissemina para outros órgãos. Pode ser administrada via oral ou endovenosa, por monoterapia (apenas uma droga) ou associação de medicamentos.

Os medicamentos administrados e a duração do tratamento variam de acordo com a doença e com os protocolos escolhidos. Muitas combinações de medicações podem ser utilizadas e serão escolhidas pelo médico Oncologista. A quimioterapia é administrada em ciclos, com cada período de tratamento seguido por um intervalo de descanso.

Medicamentos administrados:

Existem diversos medicamentos quimioterápicos que podem ser usados para o tratamento do câncer de mama. Como eles agem de maneira diferente nas células cancerígenas, geralmente uma combinação de drogas é escolhida. O oncologista decidirá qual é a mais apropriada para cada paciente de acordo com fatores individuais, como tipo tumoral, estágio da doença, idade do paciente, condições clínicas e presença ou não de tratamento prévio. 

Os medicamentos quimioterápicos mais comuns para o câncer de mama são: 

  • Antracicilinas – Doxorrubicina (adriamicina) e Epirrubicina
  • Ciclofosfamida
  • Taxanos – Paclitaxel e Docetaxel
  • Agentes da Platina (Cisplatina, Carboplatina)
  • Fluororacil  (5-fluororacil , 5-FU ou fluoruracil)
  • Capecitabina
  • Metrotrexato
  • Vinorelbina
  • Gemcitabina
  • Mitoxantrona
  • Ixabepilona
  • Eribulin
Efeitos colaterais:

O tratamento quimioterápico pode atingir todas as células do organismo, em especial aquelas que se dividem rapidamente e, portanto, vários são os efeitos colaterais que podem surgir em decorrência da quimioterapia.

Justamente, por causa de seus efeitos em todo o organismo, esse é o tratamento do câncer de mama que mais assusta as mulheres. Porém é importante saber que nem todas as pacientes terão esses sintomas e a intensidade dos efeitos é muito variável entre as pessoas. 

Alguns efeitos adversos estão listados abaixo:

  • Perda de cabelo
  • Náuseas e vômitos
  • Alteração nas unhas
  • Feridas na mucosa oral
  • Alteração do apetite
  • Diarreia
  • Dores no corpo
  • Cansaço e fadiga
  • Aumento do risco de infecção
  • Sangramento e hematomas

Sintomas como perda de cabelo e cansaço geralmente acometem de forma global as pacientes que realizam quimioterapia para o câncer de mama. Porém os demais sintomas, são variáveis e muitos deles, como por exemplo, náuseas e vômitos, podem ser manejáveis com uso de medicações.

Outros efeitos colaterais são possíveis e variam de acordo com as medicações utilizadas.

  • Fertilidade e alterações menstruais:

A quimioterapia pode danificar a função dos ovários e, portanto, afetar a fertilidade. Pacientes em idade fértil que desejam engravidar devem consultar um especialista em medicina reprodutiva para planejar possíveis medidas de preservação da fertilidade antes do início da quimioterapia.

Mudanças no ciclo menstrual são comuns na quimioterapia. A menstruação pode se tornar irregular ou parar temporariamente durante o tratamento. A menopausa (parada da menstruação) e a infertilidade também podem ocorrer e serem permanentes. Quanto maior a idade da paciente e dependendo das drogas utilizadas, mais provável será que ela entre na menopausa ou fique infértil. O risco é maior nas pacientes acima de 35 anos.

Por outro lado, mesmo que os ciclos tenham parado durante ou logo após o tratamento, a paciente ainda pode engravidar. A recuperação do ciclo menstrual pode levar vários meses, durante os quais é apropriado usar um método contraceptivo. O uso de anticoncepcionais hormonais geralmente é contraindicado durante e após o tratamento. Dessa forma, as pacientes com câncer de mama devem fazer uso de métodos anticoncepcionais não hormonais, como o uso de preservativo e DIU de Cobre/Prata.

Após o tratamento do câncer de mama, as mulheres podem ter filhos. Se esse for o desejo da paciente, o momento ideal deve ser discutido com os médicos assistentes.

De outra forma, caso for diagnosticado câncer de mama durante a gestação, a quimioterapia pode ser realizada. Ela deve ser evitada durante o primeiro trimestre, mas durante o segundo e o terceiro trimestres de gestação pode ser administrada com segurança. A maioria das mulheres tratadas com quimioterapia durante a gravidez têm filhos saudáveis, embora exista um pequeno risco de baixo peso ao nascimento ou de nascimento prematuro. Se o prazo da gravidez estiver próximo, pode-se antecipar o parto para iniciar a quimioterapia imediatamente depois.

  • Cansaço e Fadiga:

Cansaço é outro problema comum para as mulheres que recebem quimioterapia e muitas vezes pode se estender após o tratamento. Problemas com o sono também podem aparecer e podem ser tratados, assim como sintomas depressivos, que podem melhorar com aconselhamento e com uso de medicações.

  • Problemas cardíacos:

As drogas com as antraciclinas (doxorrubicina, a epirrubicina entre outras) podem causas problemas cardíacos (cardiomiopatia), raramente permanentes. O risco é maior se o medicamento for usado por muito tempo ou em altas doses. Pacientes em uso dessas medicações realizam ecocardiograma a fim de acompanhar a função cardíaca. Ao se detectar alterações, as drogas podem ser suspensas temporariamente ou definitivamente.

  • Neuropatia:

Muitas drogas usadas para tratar o câncer de mama, incluindo os taxanos (docetaxel e paclitaxel) e agentes de platina (carboplatina, cisplatina), podem danificar os nervos periféricos e da medula espinhal. As pacientes podem apresentar sintomas como dormência, principalmente nas mãos e pés, dor, sensação de queimação ou formigamento, sensibilidade ao frio ou ao calor ou fraqueza. Na maioria dos casos, os sintomas desaparecem quando o tratamento é interrompido. 

  • Síndrome de mão-pé:

Certas drogas quimioterápicas, como a capecitabina e a doxorrubicina lipossômica, podem irritar as palmas das mãos e as solas dos pés, o que denomina-se de síndrome mão-pé. Os sintomas incluem dormência, formigamento e vermelhidão, podendo evoluir para mãos e pés inchados, causando desconforto e dor e descamação ou até mesmo feridas abertas. Não há tratamento específico, embora alguns cremes ou corticóides administrados antes da quimioterapia possam ajudar. Esses sintomas gradualmente melhoram quando a droga é interrompida ou a dose é reduzida. O médico oncologista deve ser informado assim que os sintomas surgirem para evitar quadros graves dessa síndrome. 

  • Nevoeiro Quimioterápico:

Pacientes em tratamento para o câncer de mama pode ter alguns problemas de concentração e memória. Embora muitas mulheres relacionem esses efeitos à quimioterapia, eles também são vistos em pacientes que não receberam o tratamento quimioterápico. Esses sintomas podem durar anos, mas vale ressaltar que a maioria das mulheres que realizam tratamento para o câncer de mama tem o funcionamento cerebral normal após o término da terapia.

 

A paciente que está realizando quimioterapia deve conversar com seu médico sobre qualquer alteração de esteja percebendo no seu organismo durante o tratamento, a fim de minimizar e gerenciar melhor os efeitos colaterais. Apesar dos seus efeitos adversos, a quimioterapia, quando bem indicada, apresenta muito mais benefícios do que malefícios para as pacientes.